Ex-publicitário, Nik Sabey começou plantando árvore na calçada por gosto pessoal, mas transformou isso em uma missão de vida e também em profissão. São Paulo agradece!


Nik Sabey tem 36 anos, dois filhos e não sabe dizer quantas árvores plantadas pela cidade. Mas são muitas, certamente centenas. Afinal, desde 2012 ele planta por aí. No começo era um trabalho solitário, feito nos finais de semana e horários de folga, para suprir uma necessidade pessoal de espalhar verde pela cidade e também de se manter em contato com a natureza.

Quando criou uma página no Facebook com o nome de Novas Árvores por Aí e começou a postar fotos dos plantios que fazia e a compartilhar informações, sentiu que havia um interesse das pessoas por essas questões. E o público foi crescendo organicamente, ajudando a fomentar esse movimento de plantadores urbanos que hoje é bem forte em São Paulo.

“Quando criei a página no Facebook com o nome Novas Árvores por Aí, a ideia era que mais gente plantasse. Mas eu não sabia como isso seria recebido, se me achariam louco. As pessoas gostaram, isso foi me incentivando e comecei a pensar em como dar escala para o projeto. Foi quando conheci um grupo que promovia plantios coletivos no interior e quis tentar fazer o mesmo em São Paulo. O interesse foi incrível, o que me deu mais vigor e vontade de continuar”.

Quando o hobby vira profissão
Depois de quatro anos plantando por hobby, quase que exclusivamente de forma voluntária, dedicando o tempo das horas vagas aos plantios e mutirões, Nik Sabey percebeu que poderia transformar o Novas Árvores por Aí em um negócio. “Queria transformar isso em algo que me sustentasse. E começaram a aparecer algumas alternativas, como projetos de paisagismo, consultorias para empresas que queriam se aproximar do verde”.

E foi assim que o Novas árvores por Aí ganhou uma frente de negócios e Nik pode deixar a publicidade, que tanto o incomodava, para viver de plantar. “O objetivo é ter novas árvores. Se fazemos isso através de um plantio voluntário, ótimo; se fazemos isso através de uma empresa que está a fim de gastar energia e recurso para este fim, estamos cumprindo com o mesmo objetivo. Um pilar sustenta o outro”.

Nik Sabey está realizado por, hoje, viver do que gosta: plantar. Foto: Divulgação

O número mágico de quantos plantios já fez, Nik não sabe. Mas sabe que ao começar esse movimento, contagiou muita gente. Ele cita a formação de um novo grupo de plantadores como um dos momentos mais emocionantes dessa jornada. “Fizemos um plantio no Parque da Juventude e a ali criou-se um grupo de voluntários para cuidar do espaço. Desse grupo surgiu um novo grupo de plantadores e é uma história muito bonita de ver acontecer. São pessoas que podem ter opiniões muito diferentes, mas que naquele momento têm o mesmo objetivo”.

A relação com a cidade
Morador de São Paulo desde que nasceu, Nik Sabey conta que plantar na cidade trouxe uma nova relação dele com esse espaço, de muito mais potência e generosidade, além de levá-lo a conhecer lugares diversos desse município de 14 milhões de habitantes. “É gratificante perceber que a gente tem poder para intervir na cidade, colocar a mão na massa e deixar melhor”.

O antes e depois na Avenida Hélio Pelegrino: plantar é mudar a cidade. Foto: Divulgação

Mas existe, aqui, o desafio de levar essa cultura do plantio urbano para todas as regiões. Hoje, esse movimento está mais concentrado nas zonas Sul e Oeste. Para Nik, uma das razões para que isso aconteça é o fato de que essas já são regiões mais arborizadas, onde as pessoas já tem uma convivência mais estabelecida com o verde. “A demanda puxa mais para a Zona Oeste e Zona Sul porque é onde as pessoas convivem um pouco mais com natureza, então são mais abertas ao verde. Uma pessoa que nasceu em uma rua sem árvores tem a tendência de reclamar da folha que cai porque é o que ela tem de histórico”.

Ele se sente desafiado a expandir os tentáculos do projeto Novas árvores por Aí, que tem no nome o objetivo de estar em todo lugar. “É difícil porque a cidade é gigantesca, mas já conseguimos através do Verdejando, que é um parceiro fortíssimo, expandir para regiões mais afastadas do centro, como Jardim Peri e Cidade Tiradentes”.

É preciso acompanhar
Plantar no espaço público é um desafio antes, durante e depois. A maioria dos plantios é feito na raça, sem recurso, com a ajuda de parceiros e muitos voluntários. Isso exige correr atrás desses parceiros, organizar e divulgar o “evento”. O depois inclui cuidar e conservar o lugar onde foi feito o plantio. “Uma das nossas premissas é tentar estar perto das intervenções o máximo possível. Em alguns casos, como no Parque Cândido Portinari, fizemos vários mutirões de manutenção. Mas há lugares em que nunca mais consegui voltar e fica uma aflição”.

A frustração também vem quando encontram o local depredado, com lixo e as plantas machucadas, por exemplo, pela roçadeira que passou por lá pra cortar a grama. E tudo isso acontece com muita frequência. “A gente foi aprendendo e desenvolvendo formas de evitar esses problemas. Para que a roçadeira não machuque a árvore, por exemplo, plantamos algumas espécies mais rasteiras embaixo para proteger”.

O lixo é um problema que ele encontra com frequência no Largo da Batata, região muito movimentada em Pinheiros que foi totalmente transformada com o plantio de uma Floresta de Bolso. Porém, desde que isso aconteceu, já encontraram de tudo por lá: lixo, colchão, sofá, roupa etc. Agora, conseguiram um patrocinador para pagar um jardineiro que vai fazer a manutenção do lugar.

Os Jardins de Chuva

Jardim de chuva feito em São Paulo. Foto: Novas Árvores Por Aí

Não raro, os plantios do Novas Árvores por Aí ganham um incremento dos Jardins de Chuva. Nik conta que quando conheceu essa técnica de aproveitar a água da chuva e a água que corre pelas ruas em canteiros, ficou extasiado e começou a incluir esse tipo de inteligência nos projetos – voluntários ou remunerados – sempre que possível. “Eu estava em um evento quando alguém trouxe essa ideia dos jardins de chuva, que achei genial. O plantio de árvores com a inteligência do jardim de chuva é muito mais eficaz. Foi quando virou essa chave e agora em todo projeto tentamos incorporar o jardim de chuva no cenário”.

Até agora já foram feitos 19 jardins desse tipo na cidade. Um número que deixa Nik muito satisfeito. “Com 19 já conseguimos pressionar um pouco mais o poder público”. Que venham mais 19, ou muito mais!

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