Uma referência quando se fala em “Plantas Alimentícias não Convencionais”, a nutricionista Neide Rigo promove expedições pela City Lapa em busca do verde que está espalhado pelas ruas, calçadas e praças e é de comer.

Ela tem um blog com um nome mais do que sugestivo: Come-se. Para a nutricionista Neide Rigo, todas as plantas que são de comer interessam. Ela joga na panela, testa, inventa, experimenta. Os livros, cursos e especialistas são algumas de suas fontes sobre o assunto da diversidade alimentar, mas a cidade também tem sido seu laboratório.

Neide é uma referência em PANC (Plantas Alimentícias não Convencionais) e criou, há dois anos, a oficina “PANC na City”. O nome é uma referência ao bairro da City Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, onde ela mora e onde acontece a oficina.

Funciona assim: você se inscreve e, no dia marcado, encontra a Neide na casa dela. Depois de um papo inicial, todo mundo sai com sua cestinha, sacola, embornal ou seja lá o que for para, literalmente, caçar PANC pelas ruas do bairro. A primeira parada certamente será em algum canteiro da calçada entre a casa da Neide e a horta comunitária do bairro. Neste minúsculo espaço ela pode te apontar algumas PANC e, talvez, mostrar o que secou porque alguém jogou “mata mato” pra se livrar daquele verdinho (aconteceu no dia em que eu participei desta oficina).

Na horta da City Lapa, a parada é mais longa, já que lá há muita planta para conhecer e colher. As espécies podem variar de acordo com a época do ano, mas em geral há batata-doce, feijão, temperos mil, algumas flores, muitas PANC. Fazer várias edições do PANC na City durante o ano, aliás, é um bom jeito de ver como a natureza urbana muda ao longo das estações. Na primavera, por exemplo, a chance de fazer uma colheita de frutas é bem maior do que no inverno.

Depois da horta, é bom preparar os músculos e as articulações para uma longa caminhada. Praças, calçadas e canteiros são escaneados por Neide e seu grupo. As plantas colhidas são levadas pra casa dela, onde se faz de forma mais didática a identificação. No dia em que fiz o passeio, colhemos pepininho, caferana, palma, hibisco, buva, cosmus, malvavisco etc. Depois, muita coisa vai pra panela e o almoço é servido. Quem quiser pode levar mudas, sementes, folhas e flores para casa. Eu trouxe cúrcuma colhida no canteiro de uma rotatória e, neste ano, vou ter a minha segunda colheita!

Além de apresentar o universo das PANC para leigos como eu, o “PANC na City” é uma experiência com o verde na cidade. Porque você sai em busca dessas plantas não convencionais, mas se depara com muito mais do que isso: com árvores diversas, com casas onde há jardins incríveis (mesmo que você não entre, pode ver por entre as grandes do portão), com plantas que crescem na cerca de uma mansão, com praças e canteiros que você não conhecia, com uma diversidade que cresce espontaneamente no meio de uma rotatória, praças ou calçadas. Não fiz foto, mas me lembro de uma calçada bem larga onde havia dezenas de pequenos pés de nêspera. Algum tempo depois, vi um post no Instagram da Neide em que ela mostrava ter retirado boa parte daquelas mudas para plantar no sítio.

Estar na rua em busca das plantas ajuda a abrir os nossos olhos para o verde que está a nossa volta. Dificilmente, depois de fazer essa oficina você vai conseguir sair de casa e não observar as plantas da sua vizinhança. Esse contato com a planta na rua e o conhecimento de que aquilo pode ser consumido tem um grande poder de educar e transformar. Primeiro porque aumenta o nosso repertório culinário, o que pode ajudar a diversificar a nossa monótona alimentação. (esse, aliás, é o grande objetivo de quem trabalha na disseminação do conhecimento sobre PANC). Mas, também, porque abre os nossos olhos para o verde que nos rodeia e nos faz pensar sobre a convivência desse verde com o espaço urbano e as pessoas que vivem na cidade. As plantas estão aí ocupando frestas, calçadas, praças, parques, cercas, jardins e quintais. E a gente precisa entender a importância de convivermos com elas de forma harmônica e até divertida, no meio da cidade. E isso é uma das coisas que o PANC na City ensina.

Se quiser viver essa experiência, acesse o blog e se inscreva para saber quando serão as próximas turmas.

Você também pode gostar:

1 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Deprecated: Directive 'track_errors' is deprecated in Unknown on line 0