Dia desses, voltando pra casa depois de levar minha filha na escola, vi uma mulher atravessando a rua com uma sacola da Food To Save, uma startup que ajuda a evitar o desperdício ao redistribuir alimentos de padarias, supermercados e hortifrutis.
A lógica é simples e de impacto: em vez de jogar fora frutas feias, pães do dia anterior, excedentes de produção ou itens próximos da validade, os estabelecimentos oferecem – por meio do aplicativo “Food to Save” – esses produtos com desconto que podem chegar a 70%. E as pessoas levam pra casa comida boa mais barata e, ainda, ajudam o planeta.
Reconheci a sacola porque já escrevi sobre a empresa para o Projeto Draft, há alguns anos. E já é a segunda vez que me deparo com essas sacolas pelo bairro, o que me fez pensar.

Segundo dados da própria Food to Save, o bairro de Pinheiros “salvou” quase 19 mil sacolas entre janeiro e maio, seguido por Vila Mariana, Bela Vista, Cerqueira César e Perdizes. Juntos, estes bairros evitaram a emissão de quase 200 mil kg de CO2, o equivalente à energia usada por 8 mil geladeiras ao longo de um ano.
Claro que os números são importantes. Na atual situação de emergência climática em que vivemos, qualquer redução conta. Mas, a meu ver, o mais importante nisso é uma mudança de hábito, um novo jeito de pensar o consumo.
Não se pode deixar de ponderar que muitas pessoas são atraídas para essa compra pelos descontos e não pela consciência ambiental. De qualquer forma, isso cria um movimento. Quero acreditar que quem consome as sacolas surpresas da Food to Save tende a olhar com mais “empatia” para as frutas que não são perfeitas – mas podem ser consumidas – e para aquela comida ainda boa que vai para o lixo na própria casa. Afinal, aqueles itens que são comprados e consumidos muito provavelmente também iriam para o lixo.
E o lixo é um problema quando falamos de cidades mais sustentáveis. Afinal, tudo que descartamos precisa ir pra algum lugar. A grande maioria vai para o aterro sanitário, que tem muitos impactos ambientais negativos, como contaminação de solo e água, ocupação de território e geração de gases tóxicos
A verdade é que sustentabilidade urbana não se faz só com árvores ou praças, mas também com hábitos conscientes, coletivos e locais. É sobre consumir de um jeito que respeita o que já está aí, valorizando o que muitas vezes a gente deixaria passar.