Conheça os benefícios de aproximar criança e natureza no espaço urbano, além de alguns lugares, livros e projetos que facilitam este trabalho.

Qual o contato que as crianças que estão no seu círculo de convivência têm com o verde? É no parque, na escola, em casa ou na rua? Observar com atenção de que forma as os pequenos acessam os verdes urbanos é o primeiro passo para transformar a relação entre crianças e natureza.

O pesquisador Richard Louv cunhou o termo Transtorno de Déficit de Natureza para ajudar a medir o quanto as pessoas, sejam crianças ou adultos, estão em falta de contato com o verde.

“Transtorno do déficit de natureza não é, de forma alguma, um diagnóstico médico. É um termo que criei para definir várias questões físicas e mentais associadas, em parte, a uma vida desconectada da natureza. Entre eles: redução do uso dos sentidos, dificuldades de atenção, taxas mais altas de doenças como miopia, obesidade infantil e adulta, deficiência de vitamina D e outras enfermidades. A ciência tem feito uma correlação entre o tempo gasto na natureza e uma melhoria nessas condições”.

Ainda segundo Louv, estudos têm demonstrado que a educação baseada no ambiente melhora a aprendizagem não só em temas relacionados às ciências da terra, como também em línguas, matemática e história. “Uma pesquisa impressionante mostra como alunos de escolas baseadas na natureza não só melhoram seus resultados em testes tradicionais, mas também desenvolvem um melhor pensamento crítico, habilidades de solução de problemas, processos de tomada de decisão, entre outros aspectos cognitivos. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que as crianças que brincam em parques naturais, feitos de grama, sujeira e areia, sem brinquedos fabricados, tendem a criar suas próprias brincadeiras, a convidar outra criança a brincar, sem importar a idade, a etnia ou o gênero. Elas também tendem a brincar de forma mais colaborativa”.

A natureza, portanto, tem a ver com a saúde física e também com o desenvolvimento cognitivo das crianças.

Como acessar o verde em São Paulo

Em uma cidade como São Paulo é fácil, e quase involuntário, dizermos “ah, aqui não tem verde”. De fato, a cidade privilegia o concreto, embora esteja vivendo um momento em que há uma demanda, por parte da população, por mais áreas verdes, mais espaços de uso comum e respiros na cidade. Isso significa que as pessoas estão sentindo falta dessa convivência mais próxima à natureza dentro da cidade. Porque não é um fim de semana no mato que vai resolver o tal “Transtorno de Déficit de Natureza”, mas sim uma convivência cotidiana, que faça parte da vida tanto quanto a tecnologia, por exemplo.

Este é um desafio para gestores públicos, que devem prover a cidade de uma infraestrutura melhor, mas também para os adultos que conduzem a educação das crianças. “O acesso ao verde depende mais de como os adultos dão oportunidade para as crianças”, diz a arquiteta e urbanista Irene Quintáns. Traduzindo, isso significa permitir que os pequenos brinquem em áreas naturais, seja a praça do bairro, a árvore na calçada, o quintal ou o parque. Não importa muito o lugar, mas sim a qualidade daquela convivência.

A praça do bairro, mesmo que pequena, pode ser o espaço perfeito para o contato cotidiano das crianças com a natureza

Recomendo que vocês tirem uma hora do dia para assistir a esse vídeo de uma palestra da Irene, na qual ela fala muito sobre o quanto é preciso olhar para os espaços verdes acessíveis e cotidianos e permitir que as crianças estejam nesses lugares plenamente, com liberdade, mesmo que isso signifique correr alguns riscos. É essa convivência que vai fazer as crianças se sentirem parte da cidade, desenvolver cidadania e agir na preservação do meio ambiente.

É a reconexão com a natureza urbana que vai determinar, segundo Richard Louv, a configuração e as características das nossas cidades, casas e vidas cotidianas. Não é difícil imaginar que uma criança que cresça respeitando e conhecendo o verde do seu bairro vá ser um jovem e um adulto com preocupações ambientais e de cidadania, como separação de lixo, uso sustentável dos recursos naturais, respeito à vizinhança e aos espaços da cidade. E são essas ações locais que fomentam as ações globais.

Para ajudar quem quer ser agente de uma educação que aproxime as crianças do verde, deixo aqui algumas dicas de livros, lugares e iniciativas acessíveis pra quem mora em São Paulo e que certamente podem ajudar ou inspirar essa reconexão entre criança e natureza.

Sesc Itaquera e Sesc Interlagos
Uma na Zona Leste e outra na Zona Sul, são consideradas unidades-parque. Possuem muita área verde e uma programação voltada especificamente para o meio-ambiente. Em Outubro, estão na grade de programação atividades relacionadas a minhocário, observação de pássaros, rios, vivência sensorial da natureza etc.
Sesc Itaquera – Avenida Fernando Espírito Santo Alves de Mattos, 1.000.
Sesc Interlagos – Avenida Manuel Alves Soares, 1.100.

Biblioteca Raul Boop
Esta biblioteca fica dentro do Parque da Aclimação e é temática em meio-ambiente, ou seja, tem um acervo mais específico voltado para essa área. É um passeio que estimula as crianças tanto a ler quanto a ficar mais próximas da natureza.
Biblioteca Raul Boop – Rua Muniz de Souza, 1155

Hortas Urbanas
Nos últimos anos, o número de hortas comunitárias dentro de São Paulo cresceu. Existem iniciativas em diversos bairros e, normalmente, são lugares que acolhem as famílias, até porque são espaços de desenvolvimento da cidadania. Então, vale a pena conhecer aquelas que estiverem mais próximas, estreitar as relações e mostrar para as crianças que plantar comida também é um jeito de ter verde dentro da cidade. No link (é só clicar em Hortas Urbanas), dá pra localizar algumas das hortas da cidade.

Coleção A Turma da Horta Viva
Essa coleção tem 4 livros e faz parte de um projeto pedagógico de alfabetização ecológica. O autor é professor e trabalha com a criação de hortas em escolas do Rio de Janeiro. Na história, um grupo de amigos resolve fazer algo bom para o bairro e decide limpar um terreno baldio para plantar uma horta. Em cada volume são tratados temas relacionados, como a água, as sementes e a reciclagem.

Dedinho Verde
O viveiro Sabor de Fazenda, especializado em produtos orgânicos, possui um projeto educativo chamado Dedinho Verde, para estimular um convívio mais harmônico com o entorno por meio de vivências que conscientizam sobre a importância do respeito e da preservação do meio ambiente. É um passeio no qual as crianças aprendem sobre a reciclagem do lixo, fazem experiências sensoriais nos canteiros de ervas aromáticas, visitam a horta e a sementeira, acompanham o passo a passo do crescimento das plantas, conhecem o minhocário e a importância dos bichinhos do jardim para a reciclagem do lixo orgânico e entram em contato com alguns conceitos como agricultura orgânica, compostagem, reciclagem do lixo orgânico, entre outros.

Sementores
É um projeto que quer reconectar as crianças à natureza dentro das cidades por meio de duas propostas: Expedição sensorial com brincadeiras em parques e praças; Atividades escolares baseadas nas quatro estações do ano para explorar a observação, pesquisa e intervenção das crianças na natureza.

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