Às 3h30 da madrugada do dia 10 de fevereiro acordei, levantei da cama e desci as escadas. Chovia a cântaros em São Paulo e eu estava com medo. Com menos medo do que estaria se meu telhado não tivesse passado por uma reforma no final de 2019. Telhado novo e nenhuma gota dentro de casa, nenhuma parede com água infiltrando. Porém, lá fora, a chuva caía.

Eu não tinha medo da casa cair, mas tinha medo de que algo muito ruim acontecesse. Esse algo ruim aconteceu. Não diretamente comigo, que tive como único prejuízo um pé de boldo perdido, mas com cidade. Essa sofreu. E sofreu muito.

Acompanhei pela televisão a tragédia urbana, as melancias boiando no Ceagesp e agradeci por não precisar sair de casa neste dia. Mas também fiquei pensando no que causou tudo isso e no que poderia ser feito dali pra frente, já que a previsão é de que chuvas como esta última aconteçam com mais frequência.

E a minha forma de tentar entender tudo isso foi pesquisar, ler e refletir. A relação da cidade com a água não é simples, mas também não é impossível. Exige, sim, uma mudança drástica de cultura e comportamento porque esse não é um problema só da quantidade de chuva, mas também da forma como a cidade foi construída e do estilo de vida que levamos. Parece-me que se continuarmos na mesma toada, São Paulo (e BH, e Rio de Janeiro e provavelmente outras metrópoles) não vai dar conta.

Compartilho aqui os textos que mais gostei e que podem ajudá-los a refletir sobre essa questão!

Áreas ocupadas: Ocupamos as áreas de várzea com gente e concreto e isso já é um problema. Com o volume de chuvas maior, a situação só se agrava. Este texto esmiúça o problema, apresenta os dados de aumento dos temporais acima de 80 mm em São Paulo e ainda aborda os piscinões (será que são solução?) e os jardins de chuva, uma técnica para deixar a cidade mais permeável.

“Pode parecer difícil de lembrar, mas o rio Tietê ainda é um rio. E isso também significa que, com um grande volume de chuva, ele vai transbordar. Acontece que, atualmente, o único espaço que deixamos para essa água transbordar, é a pista da marginal”

Trecho da reportagem: São Paulo tem alta de 55% em temporais neste século; dá pra reverter a situação?, publicada no site UOL

Enchentes históricas: Este texto é uma pequena viagem histórica pelas enchentes que acontecem em São Paulo há muito tempo. O foco é o período de 1890 a 1940. Quem chegar até o final vai descobrir que a cidade já teve até um fiscal de rios e várzeas.

“Ainda hoje, linhas de trens param de funcionar por conta de alagamentos, provocando situações semelhantes às que ocorreram em 1919”.

Trecho do texto São Paulo das Enchentes: 1890 – 1940

A cidade e os rios: viver em São Paulo é imaginar que estamos bem longe da água. Mas a verdade é que elas correm sob os nossos pés. Neste texto, Edison Veiga faz um retrato da relação – conturbada – entre São Paulo e seus rios.

“De acordo com o Mapa Hidrográfico do Município de São Paulo, levantamento da prefeitura, há 287 rios, riachos e córregos na cidade. Especialistas, como o geógrafo Luiz de Campos Júnior, do projeto Rios e Ruas, acreditam que o número é subestimado – se forem considerados todos os afluentes menores, a malha fluvial paulistana dobraria em quantidade”.

Trecho da reportagem As fracassadas tentativas de São Paulo de domesticar seus rios

Para onde vamos?: Esta entrevista toca em pontos importantes do Desenvolvimento Urbano, como a expansão da área urbana, a construção de piscinões e a impermeabilização do solo.

“É preciso relacionar [as obras] a uma legislação urbana que determine onde se pode ou não adensar, fazer um controle das áreas que não podem ser adensadas por serem importantes para a infiltração. A gestão é mais ampla do que simplesmente atacar o problema de drenagem. Falar “eu vou fazer um piscinão aqui” não vai resolver”.

Trecho da reportagem: Porque são Paulo para quando chove, segundo esta urbanista

Cidades esponja: Já existem exemplos no mundo de soluções que permitem cidade e chuva terem uma boa convivência. Áreas de várzea voltam a ser várzea, telhados ganham plantas e a natureza se faz presente em grande quantidade. Se tem exemplo é porque é possível, né?

” O conceito parte da ideia central de que as metrópoles modernas lidam com a água de maneira errada. Em vez de coletar a água das chuvas e jogá-la o mais rápido possível nos rios – como ocorre habitualmente –, as cidades-esponja lançam mão de uma série de recursos que asseguram espaço e tempo para que a água seja absorvida pelo solo”.

Trecho da reportagem: Cidades-esponja: conheça iniciativas pelo mundo para combater enchentes em centros urbanos

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