Talvez estejamos vivendo um dos momentos em que mais se fala de ciência nas mídias. 

Seja por causa da pandemia da Covid-19, que movimentou cientistas do mundo todo em busca da vacina, seja por causa do negacionismo, a ciência ganhou holofotes. 

Porém, não é apenas dentro dos laboratórios e centros de pesquisas que se faz ciência. Ela pode acontecer no parque, na rua, na praia e até no seu quintal. E é pra jogar luz sobre essa “ciência do dia-a-dia” que existe a Ciência Cidadã, um termo que abarca muitas definições. 

De forma resumida e objetiva, a Ciência Cidadã é aquela que envolve cidadãos não profissionais da ciência nesse campo, quer seja diretamente, em alguma etapa da produção do conhecimento científico, ou no processo de democratização do acesso a esse conhecimento. Isso significa que eu, você, nossos pais, irmãos e filhos podemos estar envolvidos em processos de produção científica. 

Como acontece a Ciência Cidadã? 

Existem várias formas de a ciência cidadã acontecer. As pessoas podem, por exemplo, participar da coleta de dados para uma pesquisa.

Essa coleta pode acontecer em projetos mais delimitados, que recrutam pessoas para participar, mas também por meio de plataformas de Ciência Cidadã como a WikiAves e a Guardiões da Biodiversidade. Nesses locais, qualquer pessoa pode inserir os dados que possui, como um pássaro avistado no quintal ou uma espécie de abelha interagindo com uma planta na varanda da sua casa. 

A bióloga Caren Souza explica, em entrevista ao podcast Alô Ciência , que não é só na coleta de dados que acontece a Ciência Cidadã. Não-cientistas também podem ser recrutados para trabalhar na formulação de hipóteses e até na análise de dados. 

Essa forma de participação depende  do projeto. O Wiki Aves, por exemplo, é uma plataforma que fica aberta para qualquer pessoa, de qualquer lugar, marcar as aves que foram avistadas. Em projetos mais fechados e específicos, a participação dos cidadãos pode ser mais organizada, com chamamentos, inscrições e até treinamento. 

Aí a pergunta que se faz é: mas qual a credibilidade desse dado? Esse é justamente um dos desafios da ciência cidadã: a validação das informações por cientistas. 

De forma geral, os projetos possuem cientistas que fazem essa validação, seja antes da informação ir ao ar ou no momento de consolidar os dados. O Sistema Urubu, por exemplo, um projeto de Ciência Cidadã que monitora o atropelamento de fauna em estradas do Brasil, recruta pesquisadores, consultores, estudantes de graduação e pós-graduação para atuarem na validação das informações que são compartilhadas pelas pessoas. 

Por que ser um cientista cidadão?

A participação de não cientistas na produção de conhecimento tem vantagens tanto para a ciência quanto para as pessoas. A pesquisa científica, por exemplo, pode ganhar escala com a participação dos cidadãos, já que as pessoas se espalham por todos os pontos do globo e, dificilmente, uma pesquisa consegue recursos para cobrir grandes áreas. Já as pessoas, ganham em letramento científico. 

“Pessoas contribuem e aprendem com aquilo. Podem ter uma avaliação mais baseada na ciência, se aproximar da ciência, observar como o conhecimento é gerado e afeta a vida”, avalia Caren. 

Dá pra fazer ciência em São Paulo? 

São Paulo é parte do universo, então, a ciência também acontece na cidade. Uma pesquisa sobre biodiversidade, por exemplo, pode entender como as espécies se espalham e interagem no espaço urbano. E olha que biodiversidade não falta em São Paulo. 

“A cidade de São Paulo, por estar próxima da Serra do mar, cercada por algumas áreas verdes e com fragmentos de florestas na região metropolitana, tem uma rica biodiversidade comparada a outras áreas urbanas”, explica o botânico Anderson Santos

Existem mais de 450 espécies de aves vivendo em São Paulo, segundo o último inventário de biodiversidade divulgado pela prefeitura, em 2016. Isso é um prato cheio para a ciência. Entusiasta da ciência cidadã, a bióloga Karlla Barbosa estudou as espécies migratórias que usam os parques urbanos da cidade e acha que a Ciência Cidadã precisa ser cada vez mais divulgada. 

“A ciência cidadã é importante para conhecermos aquilo que desconhecemos. Se pensarmos nas aves, ela pode ajudar a identificar em qual área as aves estão e em qual data chegam. Com o tempo, esse tipo de informação ajuda a saber, por exemplo, se o regime de chuvas mudou em um determinado ano, já que existe uma relação entre a presença de aves e de água”. 

Nós, cidadãos que vivemos em São Paulo, precisamos entender que viver na cidade não é estar alheio à ciência ou à natureza. Por mais concreto que exista à nossa volta, fazemos parte da natureza.

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