No ensaio “A Planta da Cidade”, que faz parte do livro “A planta do mundo”, Stefano Mancuso cita um estudo feito por pesquisadores do Politécnico de Zurique, em 2019, que concluiu que o plantio planetário de 1 trilhão de árvores era de longe a melhor, mais eficiente e mensurável solução para reabsorver significativa porcentagem do CO2 produzido na atmosfera desde o início da Revolução Industrial. 

E Stefano questiona: “Se fosse possível plantar boa parte dessas árvores dentro de nossas cidades, os resultados, tenho certeza, seriam muito maiores. Na verdade, a eficiência das plantas na absorção de CO2 é tanto maior quanto maior for a sua proximidade da fonte de produção. Na cidade, todas as superfícies deveriam ser cobertas de plantas. Não só os (poucos) parques, avenidas, canteiros de flores e outros locais canônicos, mas literalmente todas as superfícies: telhados, fachadas, ruas; todo lugar onde é concebível colocar uma planta deve poder hospedar uma. De novo, a ideia de que as cidades devem ser impermeáveis, locais minerais, opostos à natureza, é tão somente um hábito”. 

Parece simples pensar em colocar plantas em todos os lugares e ter uma cidade verde, mas não é. Além do custo financeiro, esbarramos nesse hábito de ter uma cidade cinza e impermeável, citado por Stefano. E eu acrescentaria, ainda, a nossa cegueira botânica.

Construindo cidades verdes

Cidades são ambientes construídos e, ao longo do tempo, construímos lugares que excluem a natureza. Nesse mesmo ensaio, Stefano diz que nossas cidades são planejadas pensando apenas no ser humano, o que é um erro.

“Estudar e planejar cidades visando somente às necessidades imediatas das pessoas que vivem nelas é a forma mais direta para que essas mesmas necessidades, em pouco tempo, não possam mais ser atendidas”. 

Neste momento, vivemos isso na pele com a escassez de água. Não chove como deveria, dependemos dos reservatórios que estão vazios e um racionamento se avizinha.

Água é um recurso natural, faz parte da natureza, precisa de chuva, das plantas e também da nossa capacidade de ter uma boa infraestrutura. Por isso, a ideia de ecossistema e cooperação é interessante e muito bem-vinda. Se todos os organismos trabalhassem em conjunto, talvez a falta de água não acontecesse

“É em decorrência de um processo de coevolução, no qual humanos, meio-ambiente, construções, redes, plantas e animais se transformam, que as cidades podem se desenvolver e prosperar. Em consequência, qualquer tentativa de projeto deve ser interativa e baseada em pequenos ajustes entre os lugares e os habitantes da cidade, não apenas os humanos”.

Mas como fazer isso? Como deixar a cidade verde e transformar o ambiente urbano em um  ecossistema mais saudável? Eu não tenho a resposta certeira. Mas tenho alguns exemplos de iniciativas que podem apontar um caminho. 

Casa Planta

Uma casa na Vila Madalena coberta de plantas. Poderia ser só um jardim, mas não é. Além de criar um sistema agroflorestal na laje, usando caixotes, a Tânia Campos também cobriu a garagem de plantas. O solo foi criado usando galhos e folhas de podas e o resultado foi mais de 50 espécies brotando, entre comestíveis e medicinais, e plenamente prontas para serem usadas. “Todo mundo sabe plantar, a gente só foi se acostumando com o cimento e se distanciando da terra”. 

A Casa Planta é onde a Tânia vive, mas também um experimento sobre o que é possível ser feito no lugar onde estamos. E a prova de que é possível conviver com as plantas de forma harmônica. Tania se alimenta com parte do que produz em casa, ajuda a fazer cestas para vender e transformar algumas plantas em produtos que podem ser usados no dia a dia, como produtos de limpeza. Tudo isso ali, misturado no cotidiano de produtora de vídeo. 

Jardim do Edifício Matarazzo

A sede da prefeitura de São Paulo, o Edifício Matarazzo, é um ótimo exemplo de “telhado verde”, um recurso que poderia ser mais utilizado para deixar a cidade verde. No último andar, a 80 metros de altura, há um jardim com 400 espécies de plantas e um lago de carpas. O local costuma ser aberto à visitação pública, mas está temporariamente fechado por causa da Covid-19. 

Cafezal do Instituto Biológico

O que dizer de ter um cafezal no meio da cidade? São Paulo tem isso desde a década de 1950. O cafezal urbano fica dentro do Instituto Biológico, que é um centro de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, e hoje é utilizado principalmente para fins educativos.

Antes da Covid-19 parar tudo, havia anualmente um dia de colheita do café, em que qualquer pessoa podia acompanhar esse processo e ter contato próximo com o cafezal. A plantação tem 10 mil m² tem cerca de 2 mil pés. Será que não poderíamos ter mais áreas dessas na cidade?

Edifício seed

Edifício Seed, no Itaim Bibi, tem uma floresta na fachada. Foto: divulgação

Um prédio com floresta na fachada é a proposta do edifício Seed, da construtora Gamaro, para uma cidade verde. Localizado no Itaim Bibi, tem 20 andares e pequenas florestas de bolso intercaladas entre eles. Com plantas nativas da Mata Atlântica de São Paulo, o edifício forma uma fachada verde criada pelo botânico Ricardo Cardim

Horta em linhões

⅓ do território de São Paulo é de área rural. E entre essas áreas estão as hortas urbanas construídas em linhões onde ficam as torres de energia. É uma forma inteligente de ocupar o espaço com verde e ainda gerar renda, já que muitas das pessoas que plantam nestas áreas tem na agricultura urbana a fonte de renda da família. Além do benefício financeiro e do verde, as hortas em linhões cumprem o papel de deixar esses espaços mais seguros, já que não raro acontece destes terrenos serem invadidos por usuários de drogas.

Conhece mais alguma iniciativa verde em São Paulo? Conta nos comentários desse post! 

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4 comentários

  1. Muito bom o texto. Realmente todos que moram em São Paulo e nas cidades deveriam ler isso. Tento fazer minha parte, plantando na praça perto de casa, na minha laje tenho bastante coisa, tento transformar também minha casa como a casa planta. Compartilhei em todas as minhas redes.

  2. Aqui no bairro da Saúde e regional Vila Mariana, temos a Horta Comunitaria da Saúde, onde incentivamos o bairro a lidar com residuos, lidar com a agua, e lidar com a natureza. Realizamos varios plantios coletivos de florestas urbanas, Corredores Verdes Polinizadores , e Plantios Globais.

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