A loja de decoração Utilplast, no Itaim Bibi, fez um pequeno meliponário no quintal, com cinco espécies de abelhas nativas sem ferrão. Uma experiência de ter a natureza mais selvagem bem mais perto das pessoas

No pequeno quintal da loja de utilidades domésticas Utilplast, no Itaim Bibi, há cerca de 10 caixas de abelhas nativas sem ferrão. A ideia da instalação foi do gerente da loja, Sidcley Lucena, um dos conselheiros da ONG SOS Abelhas Sem Ferrão, que ajuda a divulgar a causa e a preservar esses insetos. O proprietário topou a ideia e, hoje, quem vai comprar coisas para casa pode aproveitar pra conhecer um pouco do universo das abelhas nativas. Sidcley está sempre disponível para explicar e apresentar as abelhinhas do tipo melíponas.

Entre panelas e utensílios, alguns ninhos de abelhas nativas. Foto: Maisa Infante

Este pequeno meliponário (o nome que se dá à “criação” de abelhas sem ferrão) tem as espécies Jataí, Mandaçaia, Iraí,  Mandaguari Amarela e Guaraipo Amarela, esta, na lista daquelas que correm sério risco de extinção. Não é um meliponário para produzir mel em escala comercial. O que sai de lá é consumido pelos funcionários da loja e até curiosos, como eu, podem ter a oportunidade de experimentar. “Esse quintal acabou virando um espaço de educação ambiental. Quem quiser pode aprender um pouco aqui”, diz Sidcley.

Sobre as abelhas

As abelhas nativas possuem o ferrão atrofiado e, por isso, são conhecidas popularmente como “abelhas sem ferrão”. Isso dá certa tranquilidade para mantermos contato com elas, mas, claro, as bichinhas também se defendem quando se sentem ameaçadas, seja infernizando as pessoas por ficarem em volta, entrando nos olhos e nariz ou mesmo dando algumas “mordidinhas” na pele.

Essas abelhas existem no Brasil desde sempre, afinal são nativas, e o mel produzido era usado pelos índios como alimento ou remédio. Tanto que os nomes populares são de origem indígena. Razões históricas, ambientais e comerciais podem explicar porque essas abelhas, apesar de nativas, ainda são pouco conhecidas.

Caixa de abelhas Mandaçaia. Foto: Maisa Infante

O mel que a gente consome no dia a dia vem da Apis mellifera, um híbrido de abelhas europeias e africanas. É uma espécie forte, que se adaptou muito bem ao País e se tornou a principal produtora de mel (tanto que o trabalho com abelhas é conhecido como apicultura, uma referência ao nome da espécie). Bem, as nativas acabaram ficando sem despertar interesse comercial.

A exploração predatória das florestas também ajudou as nossas nativas a sumirem da paisagem, já que elas precisam das flores de plantas nativas para continuar vivendo (o pólen é a principal fonte de proteínas, lipídios e vitaminas para as abelhas, enquanto o néctar – transformado em mel – é a principal fonte de carboidratos e energia). Por isso, é tão importante, além de cuidar desses ninhos, plantar mais vegetação nativa pela cidade!

Outra questão importante é que o mel das abelhas nativas tem um índice de umidade muito mais alto do que o produzido pelas abelhas Apis e, por isso, até o ano passado, quando a produção e comercialização foram regulamentadas, não podia ser vendido em São Paulo. Essa alta umidade faz com que o mel in natura tenha que ser conservado em geladeira ou passar por um longo processo de fermentação.

Interior da caixa de abelhas Jataí. O mel está dentro desses “potinhos” de cera. Foto: Sidcley Lucena

Considerado um mel de sabor mais complexo, que carrega o terroir de onde foi produzido, ele passou a ser um ingrediente desejado por grandes chefs, como o premiado Alex Atala. Essa demanda, junto com a busca das pessoas por produtos mais naturais e artesanais, ajudou a fazer uma pressão para que a regulamentação saísse em outubro de 2017. Um passo importante para o mercado dos meles de abelhas nativas.

Claro que ainda há um longo caminho pela frente. É preciso espalhar informação, fazer com que mais pessoas tenham contato com essas abelhas e sua produção, para que mais gente queria ter um ninho delas em casa e, assim, ajudar na preservação e valorização das espécies.

É sempre bom lembrar que existe um sinal de alerta no mundo para a diminuição da população de abelhas. A importância delas vem, principalmente, da polinização, que é a transferência das células reprodutivas masculinas de uma flor para o receptor feminino de outra. Sem polinização, as plantas não produziriam sementes e frutos, e não se reproduziriam para garantir o crescimento e a sobrevivência da vegetação nativa, ou a produção de alimentos.

Em casa

Isca para abelhas Jataí. Foto: Sidcley Lucena

Pra quem ficou interessado em ter uma pequena colmeia de abelhas nativas em casa, há duas formas. A mais barata é fazer uma isca, colocar no quintal ou na varanda e esperar que elas apareçam, atraídas pelo cheiro. Se tiver plantas nativas por perto, fica ainda mais fácil. Outra alternativa é comprar os enxames de produtores. No site da SOS Abelhas Sem ferrão tem uma lista de pessoas e lugares que fazem essa comercialização.

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