Nos últimos anos, a cidade de São Paulo viu crescer o movimento de plantios voluntários. São pessoas que querem viver em uma cidade mais verde, com praças e parques bem cuidados, calçadas arborizadas e espaços saudáveis para convivência e lazer.

Foi em um destes plantios que pessoas se juntaram para formar o grupo Pedra 90, que se articula para organizar e participar de mutirões em hortas, praças e áreas no entorno da cidade. Esse grupo criou, de forma totalmente voluntária, três viveiros focados na produção de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica.

Um deles fica dentro da Horta das Flores, na Mooca, e já tem três anos. O plantador urbano Salvador Abrahão conta que os voluntários já não tinham mais espaço em suas casas para colocar mudas e resolveram transformar uma área da praça Alfredo di Cunto, onde fica a horta, em um lugar para guardar e cuidar destas mudas até elas atingirem o porte ideal para o plantio.

Mudas no viveiro da Horta das Flores, que já existe há 3 anos. Foto: Divulgação

“Uma muda de árvore leva de 4 a 5 anos para estar em condições de ir pra rua. Não podemos colocá-las quando são muito pequenas porque a chance de morrerem é maior”, diz. Hoje, o viveiro da Horta das Flores tem 1.350 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica, como jabuticaba, pitanga, araçá etc. Os voluntários se organizam nos cuidados como rega, adubação e manutenção do local.

Viveiros na Zona Norte

Os outros dois viveiros com os quais o grupo Pedra 90 trabalha ficam na Zona Norte da cidade. O viveiro da Casa Verde foi reinaugurado em junho. Reinaugurado porque o espaço existe há 12 anos, mas estava inativo. “Sempre passo em frente quando estou correndo e fiquei com vontade de fazer aquilo funcionar”, conta Salvador. Apoiado pelo vereador Police Neto e pela Associação de Bairro Jardim São Bento, o Pedra 90 conseguiu mobilizar pessoas que compraram a ideia. O projeto Árvore Generosa, por exemplo, doou 2.500 mudas de plantas nativas.

Voluntários trabalhando na construção do Viveiro da Casa Verde. Foto: Divulgação/Pedra 90

O estoque do viveiro está em 3 mil mudas e um dos destinos destas plantas são oficinas feitas com alunos de escolas da região. Tal trabalho já aconteceu duas vezes e a ideia é que seja multiplicado. “Não queremos só plantar árvores, queremos plantar pessoas”, diz Salvador. Ele conta que existe um projeto tramitando na prefeitura para que o viveiro seja beneficiado com uma verba pública de 70 mil reais que será usada na reforma da sede, construção de uma sala de aula, cozinha e dois banheiros.

Voluntário em ação no Viveiro do Jaçanã. Foto: Divulgação/Pedra 90

No Jaçanã, junto com a prefeitura regional, o Pedra 90 está trabalhando no Viveiro Flamboyant, que existe desde 2017. Os voluntários ajudaram a fazer o inventário das plantas e estão trabalhando na retirada de mudas de forração e na transformação do local em um espaço para estoque de árvores e gramíneas.

As plantas, as pessoas e a cidade

O trabalho voluntário é feito por amor. Neste caso, amor às plantas e à cidade que, afinal, é a grande beneficiada com os plantios e a estruturação dos viveiros. Agora, o desafio é organizar a lida com os viveiros de forma a manter e gerenciar o estoque de mudas. O Pedra 90 tem um plano, mas precisa de gente e de recursos para executá-lo. “Vamos dividir as mudas de acordo com cada ambiente. No Jaçanã, o local é mais sombreado, bom para mudas de palmito juçara e cabeludinha, por exemplo. Já na Casa Verde tem um pouco mais de sol e meia sombra, então estamos planejando manter por lá as mudas de Jequitibá, Ipês e Figueiras. Na Horta das Flores temos sol pleno, então é um espaço bom para as mudas do Cerrado que alguns voluntários coletaram e estão germinando em casa”, conta Salvador, lembrando que o cerrado também fez parte da paisagem ancestral de São Paulo e foi praticamente extinto da região.

Trazer de volta a vegetação nativa é sim um dos objetivos destes voluntários. Mas a ideia é ir além: eles querem trazer de volta as pessoas para a cidade e a cidade para as pessoas. E as plantas são o caminho.

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