A história do parque que fica no coração da Vila Mariana e só existe porque, nos anos 1980, moradores do bairro se mobilizaram para exigir a preservação da área, que também abriga a Casa Modernista.

Entre hospital, estação de metrô, escola, prédios comerciais, shopping e colado na movimentada Avenida Jabaquara fica o Parque Modernista. Ele divide a área de 13 mil m² com a Casa Modernista, imóvel tombado em três instâncias que faz parte do Museu da Cidade. Esse conjunto de casa e parque oferece um respiro, um lugar de silêncio, tranquilidade e muita paz bem no miolo da Vila Mariana.

A história da área verde não pode ser dissociada da história da casa, embora uma seja administrada pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente e a outra pela Secretaria de Cultura. Construída em 1928 pelo arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972), a casa é considerada a primeira obra de arquitetura moderna implantada no Brasil. Foi residência da família até os anos 1970, quando começou o imbróglio que terminou com a compra da casa pelo governo do estado de São Paulo, em 1994. Em março de 2008, a prefeitura passa a ser permissionária do imóvel, tendo o governo do Estado transferido a ela a responsabilidade pelo seu uso e manutenção.

O jardim, que hoje é a área verde do parque, foi concebido pela esposa de Warchavchik, Mina Klabin. Assim como a arquitetura austera e sem ornamentos da casa, o jardim foi considerado, na época, algo inovador. “O projeto desse jardim representou uma concepção interessante e inovadora no período em que foi construído, pois trazia espaços e equipamentos voltados para o que chamamos de lazer ativo, algo raro naquela época, quando os jardins dos palacetes e grandes residências eram apenas para contemplação”, explica Ana Carolina Carmona, professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do IFSP e doutoranda na FAUUSP. O jardim da casa modernista tinha piscina, praia com areia de verdade, casa de bonecas e até um teatro configurado por cercas vivas de fícus. Neste espaço aconteciam muitos eventos, festas e apresentações.

Diferentemente do que era comum naquela época, Mina escolheu muitas plantas tropicais para compor o jardim (nem todas nativas), como cactos, orquídeas, dracenas, suculentas e guaimbês. A maior parte delas não existe mais. Segundo Ana, o Pinheiro Australiano ao lado da casa e os eucaliptos rentes ao muro são originais. Estes eucaliptos, aliás, foram plantados para preservar a privacidade do imóvel na época da construção do hospital Santa Cruz. “As espécies tropicais eram raras nos jardins, pois o que se valorizava eram as plantas estrangeiras de clima temperado, como rosas e azaleias. E isso foi uma grande inovação. Os cactos que ela plantou, por exemplo, chamaram muita atenção porque até então eram considerados plantas ‘selvagens’, pouco ‘civilizadas’, e, portanto, de segunda categoria”, explica Ana.

A casa com seus cactos. Foto da década de 1930

Esse conjunto de área verde e casa histórica quase foi abaixo nos anos 1980. A existência de um parque no coração da Vila Mariana se deve muito ao esforço de moradores que, em 1983, foram às ruas reivindicar que aquele espaço não se tornasse o condomínio Palais Versailles, com quatro torres de 15 andares cada uma. Um estande de vendas chegou a ser montado no terreno, mas os moradores formaram a Associação Pró Parque Modernista e conseguiram mobilizar a opinião pública e coletar assinaturas que reverteram a situação e o imóvel acabou tombado em 1984. Isso garantiu a preservação daquele espaço, mas não a manutenção dele. Desde que a família saiu da casa até a compra definitiva pelo estado, em 1994, o imóvel ficou praticamente abandonado. Na verdade, obras de conservação só começaram a ser feitas nos anos 2000. A última aconteceu em 2007.

Mobilização de moradores nos anos 1980 em prol do Parque Modernista

Em que pese todos os problemas e necessidades, é bom ter mais verde em São Paulo, mais um lugar onde se pode respirar melhor e estar próximo da natureza. Ainda mais sendo um lugar acessível de metrô.

Vista aérea da área ocupada pelo parque na Vila Mariana

Parque Modernista
Rua Santa Cruz, 325
De Terça a domingo, das 9h às 17h.
Até o dia 17/02, o funcionamento é das 07h às 19h.
Tel.: 5083-3232

Casa Modernista
De terça a domingo, das 9h às 17h.

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1 comentário

  1. […] Parque Casa Modernista – O parque foi construído onde, no passado, foi o jardim da casa do arquiteto Gregori Warchavchik . Ele divide espaço com a Casa Modernista, imóvel histórico que faz parte do Museu da Cidade. O parque e a casa mereceram um texto só pra eles aqui no Verde SP. […]

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