O nome é feio e me remete a canibalismo. Mas não tem nada a ver. 

Locavorismo é um termo usado para definir um posicionamento de consumir aquilo que é produzido o mais próximo possível de você. Pode ser roupa, sapato ou tecnologia, mas existe uma ligação bem forte do termo com a alimentação.

A ideia por trás do locavorismo é que as distâncias mais curtas, tanto na comercialização como na produção, geram menos impacto ambiental e social.

Quando você compra verdura de uma horta perto da sua casa, por exemplo, em vez de comprar no mercado, está gerando renda para aquela pessoa que planta e colhe em vez de renda para uma cadeia que tem vários elos – produtor, intermediário e mercado – na qual os produtores são os que recebem menos. 

A mesma ideia vale para as compras de produtos feitos à mão, em feiras locais. Você está comprando diretamente de quem faz em vez de ir em uma loja do shopping comprar brincos que vieram da China. 

O que é próximo?

Uma questão que às vezes fica em aberto no locavorismo é o conceito do que é próximo, que pode variar bastante. 

A pesquisadora Elaine Azevedo explica que estudos feitos fora do Brasil sobre o assunto, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, apresentam variedades imensas de conceitos. Alguns consideram locavorismo o consumo de produtos de propriedades vizinhas, outros de locais distantes até 160 km do consumidor. Em países continentais, como os Estados Unidos, essa distância pode chegar a 400 km. Na Europa, o alimento local é definido como aquele produzido, processado e vendido em um raio entre 48 e 68 km da origem. 

O fato é que a ideia por trás do locavorismo é encurtar distâncias e aí, vale o bom senso e a sua própria consciência do que é próximo.  

No caso da alimentação, quem quer praticar o locavorismo deve passar bem longe do supermercado, porque os produtos industrializados fazem viagens malucas ao redor do mundo. Muitas vezes a matéria-prima sai daqui, vai pra China e volta em forma de produto. 

Essa forma de produção e consumo globalizados têm um grande impacto nas questões ambientais e sociais. O transporte, por exemplo, é um grande emissor de carbono. Muitas vezes, as relações trabalhistas são análogas à escravidão para baixar o custo dos processos. Isso sem contar a geração de lixo. 

Moro em São Paulo, como posso comprar de quem produz?

Ser um locavorista em São Paulo pode ser um desafio, mas não é impossível. Claro que, dificilmente, alguém vai conseguir abastecer a sua vida e a sua casa com tudo vindo de produtores próximos. Isso exigiria um estilo de vida que não me parece muito acessível. 

Mas existem formas de escolher alguns produtos vindos de perto.

No caso da alimentação, o ideal é optar pelas feiras orgânicas, que normalmente recebem produtores do cinturão verde em torno da região metropolitana. Existem, ainda, algumas hortas nos extremos das Zonas Leste e Sul de São Paulo, onde é possível comprar diretamente com esses produtores. 

No caso de produtos como roupas, sapatos ou acessórios, a cidade possui algumas feiras de produtos artesanais, nas quais os próprios produtores vendem sua produção. É uma forma de sair das grandes redes e estabelecer uma relação mais próxima com quem produz. Porém, muitas vezes estes produtos são mais caros do que similares que podem ser comprados em grandes lojas por aí, o que dificulta o acesso de muitas pessoas. 

A meu ver, outra forma de praticar o locavorismo é privilegiar o comércio do seu bairro. Em vez de comprar ração na grande rede, você compra no pet shop da esquina da sua casa. A ração é a mesma, industrializada e transportada sabe-se lá de onde, porém, ao comprar nesta loja você está ajudando um pequeno comerciante do bairro, fortalecendo esse ecossistema. 

Existe um grande desafio aqui relacionado ao preço. De maneira geral, esses comércios pequenos e locais acabam praticando um preço um pouco mais alto do que as grandes lojas que, obviamente, conseguem negociações melhores com os fornecedores. E sabemos que isso impacta nas nossas escolhas. 

Assim, o mais importante é fazer escolhas conscientes dentro da realidade de cada um. Sempre privilegie aquilo que for possível consumir localmente. E tudo bem se não der pra fazer isso o tempo todo ou com tudo aquilo que você precisa para viver em São Paulo.

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