No imaginário popular, alimento orgânico é aquele produzido sem agrotóxicos, os pesticidas sintéticos usados para controlar as pragas nas lavouras.

E, de fato, para ser considerado orgânico, uma das características necessárias é não ter sido produzido utilizando agrotóxico. Mas esse é só um ponto.

A nutricionista e pesquisadora Elaine de Azevedo, autora do livro Alimentos Orgânicos (editora Senac), explica no podcast Panela de Impressão, que no Brasil Agricultura Orgânica é um nome guarda-chuva utilizado na legislação para abrigar uma gama de agriculturas alternativas ou sustentáveis, que são aquelas que buscam ter impacto mínimo no meio-ambiente, preservar os recursos naturais e dar um retorno adequado aos produtores. Dentre estas práticas estão: Agricultura Biodinâmica, Biológica, Natural, Permacultura, Agroecologia e a própria Agricultura Orgânica.

A pesquisadora explica que apesar de muitas diferenças, existe uma base comum entre elas: “Não utilizar agrotóxicos, fertilizantes sintéticos, sementes transgênicas ou drogas veterinárias. Se o produto for industrializado, não se pode usar a irradiação (o uso de metais pesados para esterilizar alimentos) e nem aditivos químicos sintéticos”. 

Então, os alimentos orgânicos são mais limpos, o que é ótimo para as pessoas e para o meio-ambiente. 

Hoje, a principal identificação dos alimentos orgânicos é o selo Orgânico do Brasil, concedido quando o produtor contrata uma certificadora para auditar a produção. Mas também existem formas de certificação participativas, normalmente usadas por aqueles produtores que vendem diretamente ou em feiras. Essa certificação acontece quando um grupo de agricultores se junta para garantir a qualidade de produção. Neste caso, eles se auto fiscalizam para que nenhum seja prejudicado.

É importante dizer que o orgânico é sempre melhor que o convencional. Mas, hoje, o universo orgânico já é uma indústria e existem pontos a serem ponderados.

Podemos, por exemplo, consumir orgânicos que viajaram milhares de quilômetros, ou seja, contribuíram para as emissões de carbono no mundo. Além disso, a legislação orgânica permite a adição de alguns elementos sintéticos – em quantidades bem menores do que o convencional, é verdade – que talvez a gente não queria consumir quando compramos orgânicos. 

Outro ponto é que existem muitas monoculturas orgânicas. E toda monocultura exaure  solo e não contribui com a biodiversidade. A ideia é que quanto mais diverso, mais saudável será o ambiente.

Por isso, a informação é sempre fundamental. Pesquisem antes de comprar.

Como a cidade se relaciona com os alimentos orgânicos?

Quando se fala em agricultura, a tendência é pensar que não tem nada a ver com quem mora na cidade. Mas a verdade é que os cidadãos urbanos são os grandes consumidores de alimentos, sejam eles orgânicos ou convencionais. 

É na cidade que está a demanda, o poder econômico e político. As escolhas alimentares feitas na cidade impactam diretamente na produção. Portanto, quanto mais pessoas quiserem consumir orgânico, mais orgânico haverá. 

O preço é sempre apontado como um dos grandes entraves a esse consumo. De fato, muitos alimentos orgânicos são mais caros do que os convencionais. Mas nesse preço está embutido o cuidado com a terra, com as pessoas que trabalham nesta terra, com as famílias que precisam disso para viver. E esse é um custo que impacta na forma como vivemos neste mundo.

Sim, estamos em um país desigual, onde muitos não podem pagar 5 reais na alface em vez de 3. Por isso, gostei muito da frase que ouvi da jornalista Ailin Aleixo no episódio Alimentos Orgânicos, do podcast Vai se Food. “É através de quem tem poder de compra que vamos fortalecer a cadeia e ajudar  esses alimentos a chegar em quem não tem poder de escolha”. 

A forma mais barata de comprar orgânico é diretamente do produtor, o que em grandes cidades como São Paulo pode ser feito em feiras ou no sistema CSA, que é quando um grupo de pessoas se junta para garantir a compra por um período mais longo.

Esse tipo de consumo direto é o mais interessante porque leva mais diversidade para o consumidor e garante uma remuneração mais digna para os produtores.

Apesar do tamanho, São Paulo é uma cidade que oferece a chance de compra direta em diversas feiras. A mais antiga e mais conhecida é a feira do Parque da Água Branca, na Zona Oeste.

Para saber mais

Livros
O dilema do Onívoro – Michel Pollan
Alimentos Orgânicos – Elaine de Azevedo

Podcasts
Panela de Impressão
Episódios: #Orgânico tem sobrenome e #Orgânico é pra todo mundo?

Criado Solto
Episódio: #Naturebas, sustentáveis e orgânicos

Vai se food
Episódio: #Produção Orgânica

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