São Paulo não é uma cidade que privilegia o verde. Então, nem sempre é fácil fazermos uma reconexão com a natureza. Mas existem formas de fazer isso levando o universo botânico para dentro de casa.

Os japoneses reverenciam a natureza, acreditam no seu poder curativo e até receitam um tempo imerso nela como terapia para tratar alguns problemas de saúde. É o Banho de Floresta, uma técnica de imersão na natureza que, por lá, é levada muito a sério, inclusive com a certificação de florestas.

As pesquisas sobre os benefícios desse contato com a natureza carecem de mais incentivo e rigor, mas uma coisa é certa: o contato com a natureza estimula a liberação de endorfina, o hormônio do bem-estar. Isso, aliado ao estar em um lugar belo e de ar puro, já traz inúmeros benefícios. Natureza convida a contemplação, ao silêncio, a calma, elementos que só fazem bem.
Mas nem sempre podemos estar imersos nessa natureza, ainda mais vivendo em uma cidade como São Paulo.

Porém, isso não precisa ser uma sentença de desconexão total com o verde. Temos praças, parques, hortas e vasos que podem nos levar a uma reconexão com a natureza. E ainda há formas além destas que permitem nos deixar mais próximos do verde dentro de casa. O pesquisador japonês Yoshifumi Miyazaki, que estuda uma área chamada de “medicina florestal”, diz que “outros estímulos naturais, como parques, flores, bonsai e até pedaços de madeira comprovadamente reduziram o estresse, fazendo com que esses efeitos [de bem-estar] sejam possíveis para todos nós, até quem mora em cidades”.

Ir pra floresta é o cenário perfeito para se reconectar com a natureza. Como nem sempre é possível, precisamos encontrar formas de buscar essa reconexão dentro da cidade

Lembrei bastante desta frase nos últimos tempos enquanto pesquisava sobre formas de fazermos uma reconexão com a natureza. No livro Wabi-Sabi, em que a autora Beth Kempton explora esse conceito oriental de simplicidade e aceitação da imperfeição, um dos pontos abordados é justamente encontrar formas de incorporar a natureza de verdade nos espaços de casa usando flores, ramos, sementes, penas, folhas, conchas, pedregulhos, buquês de flores e cestos feitos à mão. Não se trata apenas de decoração de ambientes, mas de levar para a nossa casa – um lugar que precisa evocar conforto e descanso – elementos que nos aproximem ainda mais da natureza. “Descubra a alegria de encontrar esses objetos e decorar você mesmo o ambiente, criando poesia visual com os presentes da terra e do mar”, Beth diz no livro.

Em uma cidade como São Paulo, onde o verde não é protagonista, é de fato necessário encontrar jeitos de incorporar a natureza em casa ou mesmo no escritório. Nossa saúde mental só tem a agradecer.

E não é algo muito difícil, porque estão pipocando pela cidade ateliês e lojas focados em levar esse equilíbrio para a nossa vida doméstica. O ponto, aqui, é equilibrar o consumo desenfreado com a compra para o nosso bem-estar. Porque não adianta comprar mil quadros com plantas secas e nunca entrar em contato com um parque, uma praça ou uma floresta. É preciso encontrar o equilíbrio entre essa vida urbana e os respiros que a natureza nos trás.

Selecionamos três dicas de como se aproximar da natureza dentro de casa. Degustem com calma, absorvam as informações (escritas e visuais) antes de sair comprando tudo que virem só para ter essa natureza por perto. Não é essa a ideia. Inspirem-se primeiro!

Quadros com plantas secas

Os herbários científicos são lugares onde as plantas são conservadas e catalogadas para fins de pesquisa. Plantas, claro, são perecíveis. E a forma de guardá-las por muito tempo é desidratando-as e colocando-as em um papel cartão com informação sobre a espécie, o local onde foi encontrada, forma, cor etc. O nome desses “cartões” é exsicata e todas informações contidas ali precisam seguir o rigor científico. Nestes herbários, as plantas são desidratadas em estufas com luz e temperatura controladas, o que é bem importante para evitar a proliferação de fungos. Mas essas técnicas de secagem de plantas extrapolam o universo da ciência e podem entrar nas nossas casas em forma de arte. Que nunca colocou uma folha ou uma flor pra secar no meio de um livro? Plantas secas viram quadros que, embora não tenham o benefício do ar puro e do estímulo a biodiversidade, aproximam as pessoas do universo botânico e da arte ao mesmo tempo.

Plantas emolduradas nos aproximam do universo botânico

Estes quadros não precisam ter o rigor científico dos herbários. Pelo contrário, podem brincar e estimular a criatividade. Gosto bastante dos quadros da e.fem Flora, uma marca feita por duas mulheres, e do Studio Arbusto, que conheci em uma feira de produtos artesanais.

A outra dica é aprender a secar as plantas e fazer os quadros nos cursos da Escola de Botânica, esse espaço maravilhoso no centro de São Paulo que faz uma conexão imediata entre as pessoas e as plantas.

Madeira

A madeira é, talvez, o elemento natural mais fácil de termos em casa. Está em móveis e acessórios, mas nem sempre de forma mais bruta, que nos remeta imediatamente à natureza. É isso que a Natália Felippe faz. Ela é designer e usa pedaços de madeira como tela para desenhar. Com pincel e tinta acrílica, Natália desenha formas da natureza de maneira livre e criativa. Ela ainda faz um trabalho de energização das peças com reiki.

Quem também tem a madeira bruta no sangue é o designer Hugo França, que transforma pedaços de madeira caídos em esculturas e móveis. Primeiro ele olha a madeira e, a partir das formas naturais, cria as peças buscando interferir o mínimo possível no material. O resultado são móveis e esculturas com formas muito orgânicas, saídas de dentro da floresta, que permitem uma reconexão com a natureza.

Os móveis do designer Hugo França levam um pedaço da natureza para dentro das casas

Terrários

Os terrários são ecossistemas engarrafados. Eles são um jeito diferente e prático de ter plantas em casa e fazer essa reconexão com a natureza porque demandam poucos cuidados e sobrevivem por longos períodos. E ainda têm uma história interessante, muito ligada a ciência.

O primeiro modelo de terrário surgiu em Londres, no século 19, e ficou conhecido como Wardian Case. A montagem deste terrário entra na conta do Dr. Nathaniel Ward, um médico e colecionador botânico que estava em busca de uma maneira para cultivar suas plantas (principalmente as samambaias) livres da poluição de Londres, que não estava fazendo nada bem para sua coleção. Observando o desenvolvimento de pupas de borboleta dentro de um vidro, ele percebeu que algumas plantas se desenvolviam muito bem naquele ambiente fechado e resolveu testar com algumas da sua coleção. Deu certo e a Wardian Case se tornou um sucesso e um instrumento importantíssimo na vida dos botânicos, pesquisadores e caçadores de plantas. Foi por causa dessa descoberta que muitas espécies puderam viajar de um lugar para outro em uma época na qual os trajetos levavam meses. Mudas de chá, por exemplo, viajaram da China para a Inglaterra em recipientes como a Wardian Case. A nossa seringueira saiu do Brasil e chegou à Inglaterra, onde foi importantíssima na indústria da borracha, também desta forma.

Os terrários ecossistemas engarrafados e não exigem muito cuidado no dia a dia

Gosto muito das peças feitas pela Kika Correia, da Vi Verde Amor Jardins, não só porque ela é minha quase vizinha, mas porque os terrários têm bossa, cor e descontração. Por outro lado, gosto também da versão elegante do Wabi-Sabi Ateliê, capaz de levar leveza pra qualquer ambiente.

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