À primeira vista (muitas vezes à segunda e até à terceira vista) São Paulo parece ser simplesmente um monte de concreto amontoado. Mas podem acreditar que ⅓ da cidade é rural.
Esse ⅓ não está distribuído de forma uniforme, o que ajuda na sensação de “selva de pedra”. Das 548 unidades de Produção Agropecuária da cidade, 519 ficam na Zona sul, 21 na Zona Leste e 8 na Zona Norte.
Esses dados são do projeto Sampa+Rural, uma iniciativa lançada em 2020 que mapeou o universo rural de São Paulo e o colocou em evidência, mostrando, inclusive, onde já acontecem as conexões entre a produção da agricultura urbana e a vida cotidiana da cidade.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O lado rural de São Paulo não vem de hoje. Quando os colonizadores chegaram aqui, encontraram índios e muito verde. E a agricultura urbana acompanhou o desenvolvimento da cidade.
Dá pra ver aí a plantação de chá onde hoje é o Anhangabaú, a caça e pesca de rãs na região do tamanduateí, a colônia agrícola de Itaquera, o programa Escola Estufa Lucy Montoro, de 2008, etc.
Mas e hoje?
Hoje, esse ⅓ rural da cidade, localizado principalmente no extremo sul e leste, planta legumes, verduras e raízes (69%), plantas ornamentais (34%) e frutas (65%).
QUAL A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA URBANA PARA SÃO PAULO
Existem diversas definições acadêmicas para Agricultura Urbana. Eu gosto bastante de dizer que a agricultura urbana é a conexão mais genuína da cidade com o campo, a prova de que a vida urbana pode estar em sintonia com o meio-ambiente e, principalmente, com a produção daquilo que a gente come.
Além disso, a agricultura urbana integra um sistema econômico e ecológico urbanos. Ela emprega pessoas; muitas vezes tira pessoas de situação de vulnerabilidade; produz alimentos que são consumidos dentro da cidade; e tem um papel importante na conservação ambiental, ajudando a transformar espaços em áreas mais verdes, melhorando a paisagem urbana, os serviços ambientais e atuando como um elo entre os cidadãos e as questões ambientais, uma forma de fazê-los ver as necessidades do campo e todo o potencial conservacionista que ele tem.
Um bom exemplo são as hortas que existem sob os linhões de alta tensão. Elas são feitas a partir de um acordo entre os produtores e a concessionária de energia e transformam um espaço praticamente morto em um lugar absolutamente cheio de vida.
Conheça a História da Terezinha, uma das agricultoras da Zona Leste de São Paulo!
Mas, claro, é preciso que a construção dessa agricultura urbana seja feita de forma segura, saudável e sustentável. Caso contrário, ela pode degradar áreas. Hoje, em São Paulo, 23 produtores são orgânicos certificados e 27 estão em transição agroecológica.
Para que isso se fortaleça, é super importante ter assessoria técnica e respaldo do poder público.
O PAPEL DO CONSUMIDOR E DOS EMPREENDEDORES
Talvez você esteja se perguntando o que você, cidadão comum, pode fazer com essas informações, já que aquilo que você consome vem do supermercado, que é bem mais prático.
De fato, estamos acostumados a comprar tudo com muita facilidade no supermercado, independente da origem daquela comida, se foi produzida perto ou longe da gente.
E se você resolver comprar de produtores urbanos, vai precisar mudar hábitos alimentares porque não vai encontrar exatamente o mesmo que encontra no mercado. A sazonalidade é uma característica importante dessa produção.
Por outro lado, essa é uma decisão que tem um impacto grande no ecossistema de produção urbano. Quanto mais perto do produtor estiver a demanda, melhor para os produtores e também para o meio-ambiente. É essa demanda que vai ajudar a crescer e fomentar a agricultura urbana.
Nesse sentido, é importante também quando restaurantes usam a produção urbana nos seus cardápios. Segundo a plataforma Sampa + Rural, existem 53 parceiros da Produção Local, que são estabelecimentos que vendem produtos das zonas rurais da cidade ou utilizam esses produtos como insumo. É o caso, por exemplo, da marca de bebida Kiro e do restaurante Arturito, que utilizam orgânicos produzidos pela Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo (Cooperapas).
COMO EU POSSO AJUDAR?
O cidadão, como pessoa física, tem um papel bem importante no fomento da agricultura urbana. Primeiro porque ele pode cobrar que restaurantes, feiras e lojas busquem esses produtos. Segundo, porque ele pode comprar diretamente dos produtos, ser um parceiro e financiador dessas iniciativas.
A seguir, veja algumas formas de incluir os produtos da agricultura urbana paulistana no seu dia a dia.
Cesta dos agricultores : Organizada pela Associação dos Agricultores da Zona Leste, a cesta é entregue uma vez por semana, com produtos da horta dos agricultores de São Mateus. Para receber ou retirar, é preciso entrar em contato pelo WhatsApp (11) 94897-9308. Acesse o Instagram da AAZL aqui!
Feiras Orgânicas: Muitas das 30 feiras orgânicas da cidade comercializam alimentos produzidos nas hortas urbanas. Vale a pena ficar de olho e perguntar. Acesse a lista de feiras orgânicas aqui!
Compra direto nas hortas: Você pode fazer contato direto com os produtores das hortas urbanas. Essa é uma forma de compra muito utilizada por quem mora próximo aos produtores. Na plataforma Sampa + Rural está disponível o contato de muitos produtores. E essa relação próxima traz confiança e ajuda bastante no fomento desse trabalho.
CSA: O CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura) acontece quando um grupo de consumidores se junta e garante a compra a médio e longo prazo da produção de um ou mais agricultores. As pessoas se comprometem a pagar um valor fechado por mês ou por ano e, em troca, recebem os alimentos produzidos por aquele grupo de agricultores ao longo do período. Saiba mais sobre CSA aqui!
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