Maisa InfanteQuem passa pela Floresta de Bolso do Parque Cândido Portinari, na Vila Hamburguesa, passa perto de árvores que são filhas de espécies de uma floresta nativa de Mata Atlântica ainda preservada: o Legado das Águas, reserva privada de 31 mil hectares localizada no Vale do Ribeira e pertencente à Votorantim.
“Essa floresta tem 4 mil árvores com mudas de diversas espécies doadas pelo Legado das Águas. Tem Passuaré, que existia muito na área da Chácara Flora e foi quase completamente erradicada da cidade; várias espécies de frutíferas raras que não existem mais em São Paulo; variedades de uvaias, figueiras bravas e figueira gameleira, que vive 300 anos”, conta o botânico Ricardo Cardim, idealizador das Florestas de Bolso e parceiro de longa data do Legado.
Tais mudas existem por causa do trabalho do Centro de Biodiversidade do Legado das Águas, uma área de pesquisa e produção com capacidade para produzir cerca de 200 mil mudas por ano de até 140 espécies nativas diferentes.
Essa produção é destinada para projetos de reflorestamento feitos pelo próprio Legado ou por terceiros, mas também para o paisagismo urbano, principalmente na cidade de São Paulo, que está inserida no bioma da Mata Atlântica e ainda é dominada por espécies exóticas.
Além do Parque Cândido Portinari, as mudas do Legado estarão no Projeto Pomar, que vai plantar 30 mil exemplares de 30 espécies nativas, como Ipês, Araucárias e Palmito Juçara ao longo de 13 quilômetros da margem oeste do Rio Pinheiros .
Elas também estão em alguns projetos de jardins privados, como o empreendimento O Parque, no Brooklin, que inclui a criação de um parque aberto ao público totalmente feito com plantas nativas.
Um novo negócio e um benefício para a cidade
O Legado das Águas é um dos negócios do Grupo Votorantim, que adquiriu a área em 1940 e, em 2012, a transformou em um polo de pesquisa científica, estudos acadêmicos e desenvolvimento de projetos de valorização da biodiversidade.
Até o final de 2020, a produção de mudas ia principalmente para projetos de restauração florestal e projetos de paisagismo de grandes empresas. Mas desde o final do ano passado, elas estão acessíveis para qualquer pessoa no Pátio Caeté, uma loja de plantas focada na biodiversidade brasileira. A loja fica na Vila Leopoldina, em São Paulo, e lá é possível comprar e levar pra casa mudas da Mata Atlântica coletadas e desenvolvidas dentro do Legado das Águas.
Um dos trabalhos dos pesquisadores do Centro de Biodiversidade é entrar na mata para observar, coletar e analisar espécies animais e vegetais. A partir desse trabalho é feita não só a conservação do ambiente nativo como, quando possível, a reprodução de plantas que podem ser usadas tanto em projetos de reflorestamento como no paisagismo urbano.
Todas as plantas que saem do Legado das Águas carregam o respaldo de terem sido desenvolvidas em um lugar que respeita a floresta nativa.
Hoje, é possível encontrar espécies raras para comprar na internet, porém, sem que saibamos a origem. E uma coleta feita de forma ilegal pode, inclusive, levar espécies à extinção.
No Legado das Águas, tudo que é coletado e desenvolvido recebe um QRcode e pode ser rastreado.
“Temos um banco de dados e sabemos exatamente de quais matrizes saem as sementes que vão pra cada lote. Por meio do QR code, conseguimos acompanhar esse lote nas várias etapas do viveiro”, explica João Dias, coordenador de Negócios na Reservas Votorantim.
Ter um espaço focado nas plantas nativas dentro da cidade de São Paulo é um ganho para a biodiversidade urbana e para o trabalho de educação ambiental de quem vive aqui. Porque é uma forma de facilitar o acesso e também de nos educar para conhecermos melhor as espécies que são naturais da nossa cidade e, ao longo dos anos, perderam espaço para plantas exóticas.
SERVIÇO Pátio Caeté Avenida José César de Oliveira, 464 (fundos), Vila Leopoldina
