É sempre curioso entender de onde vem o contato das pessoas com as plantas. Há aquelas que cresceram no meio da natureza e, depois, quando vieram pra cidade, trouxeram essa paixão em vasos e quintais. Há também aquelas que descobriram a importância dessa natureza vivendo na cidade grande, cada uma do seu jeito. O botânico Ricardo Cardim, um nome expressivo no paisagismo da cidade de São Paulo, faz parte deste último grupo.
Ele cresceu em um apartamento em Moema e nunca foi estimulado a ter contato com plantas. Mas no livro do bebê feito pela sua mãe, ele conta, está escrito que seus brinquedos preferidos eram plantas, sementes, flores e conchas. Na escola particular onde estudava, havia um pedacinho de Mata Atlântica que foi suficiente pra fazer esse gosto crescer ainda mais, embora não houvesse estímulo para isso. “As professoras diziam que aquilo era coisa de quem vivia no mundo da lua”, conta. Ainda assim, ele pegava sementes naquela floresta e plantava no copinho de plástico que tirava do lixo. Levava tudo para a varanda do apartamento da família.
Curiosamente, Ricardo não foi fazer faculdade de Biologia ou Agronomia, mas de Odontologia. A profissionalização como botânico só veio depois que já estava com consultório montado e pacientes sendo atendidos. Foi quando ele se tornou aluno ouvinte do curso de Botânica, na USP. Mas a guinada de carreira acabou impulsionada pelo blog Árvores de São Paulo, que ele criou em 2007.
Lá, Ricardo começou a mostrar todo o conhecimento que tinha sobre a vegetação nativa da cidade e ganhou uma visibilidade com a qual ele nunca havia imaginado. “Sempre estudei muito sobre isso. Vi que o conhecimento que ia colocando na internet era querido pelas pessoas. E aí a mídia começou a me chamar para falar sobre o verde na cidade de São Paulo. Foi quando as pessoas começaram a me ouvir. Concomitantemente, já estava bem sedimentado na botânica da USP, o que me dava um anteparo acadêmico de conteúdo”.
Mais tarde, em 2011, Ricardo entrou no mestrado em botânica da USP e hoje é referência pra falar não só da vegetação de São Paulo, mas também do uso de plantas nativas no paisagismo.
A empresa de Ricardo, a Cardim Arquitetura Paisagística, só desenvolve projetos usando nativas do local de implantação. Dentre inúmeros projetos, ele já implantou aqui em São Paulo o edifício Seeds, que tem Mata Atlântica em toda a sua fachada, e o empreendimento O Parque, que terá 10.000 m² de área verde, sendo que parte dela será um parque público com vegetação nativa.
Também é dele a técnica da Floresta de Bolso, que busca introduzir no ambiente urbano florestas densas de plantas nativas e ajudar a resgatar a paisagem ancestral das cidades.