O parque mais antigo de São Paulo, o Parque da Luz, tem, claro, muita história pra contar.
Antes de ser parque, foi um viveiro de plantas. Esse foi o movimento inicial que transformou aquele pedaço de terra em um lugar verde.
Uma ordem real de 19 de dezembro de 1798 determinou que fossem criados três viveiros de plantas: um no Recife, um no Rio de Janeiro e um em São Paulo. Os três deveriam ser construídos nos mesmos moldes daquele que havia sido instalado dois anos antes no Pará. O viveiro receberia mudas de árvores exóticas e nativas para as reproduzir e distribuir entre os agricultores, com vistas à produção comercial.
Em 1825, o viveiro foi transformado em jardim e passeio público e trouxe para São Paulo uma área verde para o lazer social, o que naquela época ainda não existia. Com o passar do tempo aquela região se tornou um espaço com muito fluxo de pessoas, principalmente por causa da construção da estação ferroviária, em 1860.
O jardim foi se transformando junto com o bairro, as mudanças de governo, a incorporação de novos espaços, como o Liceu de Artes e Oficios (hoje Pinacoteca). Tornou-se um grande mosaico de estilos com gramados, canteiros, lagos, gruta, cascata, coreto e chafariz. E até hoje ele mantém esse conjunto eclético.
Hoje denominado Parque da Luz, é um lugar que guarda muitas histórias. Por isso separamos 10 curiosidades históricas sobre este espaço.
- O Lago em forma de cruz de malta
É o elemento remanescente mais antigo do jardim. Acredita-se que sua origem está em um pequeno lago formado pelas chuvas. Sabe-se que houve uma ordem de serviço determinando que fosse construído um lago no horto botânico em 1800, mas não é certo que já tivesse a forma de uma cruz de malta. O formato pode ter sido dado nas reformas realizadas em 1825, quando o local foi transformado em jardim público. O lago passou por diversas reformas, ganhou um chafariz no centro e, mais tarde, pedestais e estátuas para ornar seus cantos simétricos.
- Um pasto no jardim
Em 1830, o então presidente da província, Almeida Torres, fez uma visita surpresa ao jardim e constatou que o jardineiro alemão havia transformado o espaço em pastagem para seus bois e cavalos. O tal jardineiro foi demitido mas, em consequência, nos anos seguintes os deputados provinciais cortaram drasticamente as verbas destinadas ao jardim.
- Vegetação primitiva
Nas primeiras décadas de funcionamento, o jardim era formado por árvores nativas como jerivá, cambuci, aguaria e pinheiros. Também foi registrada a presença de pés de café, chá e de amoreiras. Somente na década de 1840 é que começou a ser destacada a presença de árvores exóticas.
- A ferrovia e o plantio de árvores exóticas pela cidade
Em 1856, uma parte do terreno do jardim foi entregue para a Companhia Ferroviária São Paulo Railway. Essa parte corresponde hoje aos atuais limites do jardim até a Rua Mauá. As árvores que ficavam neste trecho foram transplantadas em outras áreas públicas da cidade, o que marcou o início da politica de arborização sistemática das ruas e praças de São Paulo e a ampla disseminação de árvores exóticas pela cidade.
- Quando a população quis transformar parte do jardim em rua
Em 1889, Antonio José Fourchon, que era o jardineiro feitor do espaço, encaminhou correspondência ao presidente da província relatando a invasão do parque por mais de noventa moradores do bairro do Bom Retiro, que derrubaram taipas e cortaram árvores e alas de bambus para abrir uma rua dentro do parque. Somente com a chegada da polícia os manifestantes foram barrados.
- Zoológico do jardim da luz
Durante um período, foi criado um pequeno zoológico com capivaras, veados de duas espécies, macacos, cutias, lobos-guarás, avestruzes, urubus-reis e águias, além de outros animais, quase todos da fauna brasileira.
- Passeio de automóvel no jardim
Em 1908 foi construído um grande anel que envolvia todo o parque. Com ele surgiu outra grande atração: dar uma volta de automóvel em todo o jardim. Pagava-se para fazer o passeio.
- Guia botânico do jardim da luz
Em 1919, Alfred Usteri elaborou um Guia Botânico que registrava as espécies arbóreas e o padrão de plantio da época. As centenas de árvores presentes no documento serviram de referência para o trabalho de recuperação botânica iniciada em 1899 pelo prefeito Antonio Prado. Na quarta edição, Alfred Usteri introduziu uma planta que reunia, também, as espécies arbóreas da praça da República.
- Portão no Parque Piqueri
Com a retirada das grandes do Jardim da Luz em 1930, o portão da esquina das ruas Prates com Mauá e José Paulino foi removido e reinstalado na entrada principal do Parque do Piqueri, onde está até hoje.
- Tombamento
O parque da Luz foi tombado em 1981 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico e, em 1991, pelo Conpresp.