Está difícil fugir do assunto Coronavírus, certo? Afinal, a Pandemia mudou completamente a dinâmica e o foco das nossas vidas.

Além de sabermos nos prevenir e cuidar das pessoas, precisamos entender a relação entre o Coronavírus e o meio-ambiente e refletir um pouco sobre como, da grande cidade em que vivemos, podemos lidar com questões relacionadas à natureza e a importância da preservação do verde urbano.

Qual a origem do Coronavírus?

Tudo relacionado ao Coronavírus é novo e está sendo estudado. Segundo a OMS, “os morcegos são os mais prováveis transmissores da COVID-19. Porém, também é possível que o vírus tenha sido transmitido aos seres humanos a partir de outro hospedeiro intermediário, seja um animal doméstico ou selvagem”.

O que se sabe de concreto é que as pandemias que aconteceram nos últimos tempos (HIV, Ebola, SARS) têm sua origem em zoonoses de animais silvestres. E isso, segundo biólogos, virologistas e epidemiologistas, está relacionado com a exploração das áreas silvestres pelo homem, com o consumo de animais em mercados como o da China, onde há uma confusão de animais vivos, mortos e seus fluidos com as pessoas, e mesmo com a criação de animais hospedeiros intermediários, como porcos e galinhas.

A zoóloga Cynthia Schuck-Paim explica, no episódio “Dieta Pandêmica” do podcast Vai se Food, que a transmissibilidade de um vírus que circula na fauna silvestre para os humanos não é tão simples, ou seja, depende de uma série de condições. “Várias mutações são necessárias para um vírus que esteja circulando na fauna silvestre seja de transmissão eficiente entre humanos. Quanto mais aumenta o contato entre humanos e animais, aumenta a probabilidade de que a mutação aconteça”.

Os morcegos são um dos principais hospedeiros de vírus transmitidos aos humanos. Ao invadirmos e degradarmos cada vez mais o espaço silvestres, criamos situações de contato íntimo com esses animais e com as doenças que eles podem transmitir. Entendem a relação entre Coronavírus e meio-ambiente?

Cientistas dizem que para evitar novos surtos (que se espalham cada vez mais rápido devido ao nosso estilo de vida, que inclui viagens de avião e concentração em cidades populosas) tanto o aquecimento global quanto a destruição do mundo natural para agricultura, mineração e habitação precisam terminar, pois ambos levam a vida selvagem a entrar em contato com as pessoas.

Nesta reportagem do The Guardian, o chefe de meio-ambiente da ONU, Inger Andersen, diz: “Nossa erosão contínua de espaços selvagens nos trouxe desconfortavelmente perto de animais e plantas que abrigam doenças que podem saltar para os seres humanos”.

E ainda deixa um recado sobre a nossa relação com a natureza: “Estamos intimamente interconectados com a natureza, gostemos ou não. Se não cuidamos da natureza, não podemos cuidar de nós mesmos. E, à medida que avançamos em direção a uma população de 10 bilhões de pessoas neste planeta, precisamos entrar nesse futuro armados com a natureza como nosso aliado mais forte. ”

Bom, e do alto das nossas janelas em uma cidade como São Paulo, o que podemos fazer diante desse cenário? Como podemos transportar os ensinamentos da relação entre Coronavírus e meio-ambiente para a nossa vida diária?

Porque precisamos cuidar do verde urbano

Segundo a ONU, 55% da população mundial já vive em áreas urbanas e a expectativa é de que esta proporção aumente para 70% até 2050.

Com essa projeção fica ainda mais urgente pensar em como aumentar os espaços verdes dentro das cidades e como cuidar deles.

Existe uma tendência de relacionarmos a palavra meio-ambiente com grandes florestas, como a Amazônia, o que não está errado. Mas o meio-ambiente está em tudo: parques, praças, bosques, arborização das ruas, jardins, hortas, tudo isso faz parte do verde urbano e é muito importante na manutenção da vida, da saúde e do bem-estar.

São espaços que contribuem para a biodiversidade e para os serviços ambientais que a natureza proporciona, como diminuição da temperatura e da poluição, retenção da água de chuvas e do barulho etc.

Simplesmente, não há vida humana sem natureza. Então, cada pedacinho dela, mesmo que seja o jardim da sua casa, precisa ser preservado.

Praça com jeito de floresta construída no Largo de Pinheiros, em São Paulo. Conviver com as plantas nativas é um jeito de mudar o olhar sobre as nossas paisagens. Foto: Maisa Infante

Para o botânico Ricardo Cardim, a cidade precisa recuperar sua vegetação nativa (no caso de São Paulo, a Mata Atlântica principalmente) e, assim, ajudar na preservação de biomas e reservas maiores e mais distantes, como a própria Amazônia. “É convivendo com a estética, o cheiro, os pássaros, as frutas e as formas das plantas nativas que as pessoas vão entender o valor disso e, aí, preservar o restante. O verde tem que estar na cidade, porque a cidade é que decide o que será do verde de fora, das florestas e da Amazônia, por exemplo. Se os grandes proprietários de terra que moram nas cidades só têm como modelo de beleza as plantas estrangeiras, não vão pensar duas vezes em derrubar a floresta. Agora, se os filhos deles crescerem com Mata Atlântica nas ruas, nos empreendimentos comerciais e residenciais, vão passar a valorizar muito mais aquilo”.

Pro isso o planejamento urbano precisa contemplar as áreas verdes. Árvores não podem ser vistas como um acessório ou decoração, mas como mobiliário urbano, algo essencial para a vida.

Decisões políticas e econômicas são tomadas nas cidades. E o ambiente em que esses tomadores de decisão vivem vai influenciar seu pensamento.

O que cada um pode fazer

Como pessoas que vivem nas cidades, precisamos fazer a nossa parte. Talvez uma das coisas mais fortes que essa crise do Coronavírus nos mostrou é a interconexão entre as pessoas. Afinal, estamos o tempo todo pedindo para que as pessoas fiquem em casa não apenas por si, mas pelos outros, pelos médicos e enfermeiros, pelos trabalhadores que não podem parar neste momento.

Transportando essa dinâmica da conexão para este papo sobre o verde urbano, cada pessoa pode pensar nas suas atitudes.

A vida nas cidades só funciona bem se todos estivermos conectados. Dentro das nossas casas ou apartamentos é fácil termos a sensação de que já pagamos impostos para que outros façam o trabalho duro por nós. Mas não é bem assim que a coisas funcionam. A natureza e as pessoas estão interligadas.

Uma conversa entre o físico Marcelo Gleiser e o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak traz uma abordagem bem interessante sobre essa relação. Em dado momento, Krenak diz “não estamos separados da natureza como organismo”. E Gleiser coloca que a forma “como comemos, usamos a energia e a água é a nossa relação com o mundo natural”. Portanto, vamos nos colocar como parte desse universo. Para o bem dele e para o nosso próprio bem.

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